9 de junho de 2009

Sagres, ó Sagres...

Há um cantinho deste país que me encanta como poucos outros.
É mesmo um cantinho, senão uma pontinha, no extremo sudoeste da Europa continental, e que parece desenquadrada de tudo o resto.
Falo de Sagres, obviamente, essa vila pequena no tamanho, mas enorme em história, que deu novos mundos ao mundo ao permitir que o Infante fundasse aqui uma escola de marear como nenhuma outra.
E percebe-se porquê, ainda hoje.
Aqui, tudo o resto fica para trás, pensamo-nos isolados, sozinhos. Não há horizonte por perto, nem no mar nem em terra, que o olhar alcança até se cansar de facto.
Há falésias, enseadas, praias lá em baixo, espaço cá em cima. E que espaço.
Não estamos no Allgarve de betão, nem no Além-Tejo da planície desmesurada, ambos monótonos. Aqui há perfil, paisagem e paz. Muita paz.
Aquela que nos deixa ouvir o concerto na fortaleza à noite, ainda que a alumas centenas de metros de distância. A que nos arranja lugar para estacionar mesmo na praia, e em que pisamos areia e não pessoas quando apetece ir dar um bom mergulho. A paz dos lugares à mesa nos restaurantes sem marcar de véspera, e em que nos sentamos à hora que marcámos...
...e dos petiscos, dos perceves (sim, é mesmo assim, com 'v' que aqui se chamam), do lingueirão, das sardinhas assadas.
As caipirinhas na Babugem, os surfistas, os estrangeiros educados e despretensiosos que não vieram em charters dos arredores industriais de manchester ou birmingham. De um Allgarve em que se fala português, e em que ao fim de pouco tempo, nos tratam pelo nome próprio.
O Infante tinha razão, ao vir para aqui e fugir da confusão de albufeiras, quarteiras, e outras eiras, em que muito se malha, de facto, mas que pouco permitem de tempo e espaço para descansar, pensar ou o que quer que seja...
O seu sobrinho neto, João, rei segundo do nome, não conseguiu cá chegar e morreu no Alvor, o que para ele não deve ter sido agradável, mas apenas demonstrou como é longe este cantinho, promontório singular, onde existe a possibilidade de comer o último cachorro quente daqui até aos EUA!!
Deus deixou aqui um sapatinho, e graças a ele próprio, nunca voltou para o buscar, nem mandou ninguém descobrir quem o calçava.

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